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O setor de seguros pode preencher a lacuna de proteção de seguros da pandemia?

Publicado por Brink News em 4 de fevereiro de 2021

Pessoas caminham por um distrito comercial fechado na cidade de Nova York. O objetivo principal é assegurar que todas as empresas tenham cobertura pré-combinada, permitindo que ofereçam continuidade de negócios e emprego no caso da ocorrência de outro evento do tipo da covid-19.

A cobertura de seguro contra pandemia existe há muito tempo, mas sempre foi cara e relativamente rara. De acordo com a Geneva Association, menos de 1% da perda do PIB global estimada em US$ 4,5 trilhões induzida pela pandemia em 2020 será coberta por seguro contra interrupção dos negócios.

O seguro contra pandemia tem sofrido limitações de oferta e demanda. Os pagamentos, embora esporádicos, podem ser tão caros que ultrapassem drasticamente a capacidade das seguradoras de arcar com eles. E é sempre mais difícil convencer uma empresa a contratar seguro que proteja contra alguma coisa que não aconteceu em cem anos e que parece pura teoria.

Desde o início desta pandemia, temos visto tanto seguradoras quanto resseguradoras aplicando exclusões a riscos relacionados à pandemia. Isso levanta a questão de como a “lacuna de proteção” – a diferença entre segurado e perdas totais – será superada diante de outra futura pandemia.

A necessidade de envolvimento do governo

Os impactos da covid-19 são muito abrangentes para que um único setor assuma os riscos sozinho, e algum tipo de mecanismo com a participação do governo deve ser posto em prática.

Dependendo da solução empregada, sendo ela 100% governamental ou uma em que as seguradoras compartilham parte do risco financeiro, as resseguradoras podem fornecer o capital de risco vital como apoio aos contribuintes e à exposição das seguradoras, como fazem para uma série de outros riscos críticos, incluindo inundação e terrorismo.

Muito dependerá do apetite do setor de seguros local de assumir o risco de pandemia, que provavelmente estará limitado no curto prazo, devido à alta correlação característica do risco de pandemia.

Há uma série de considerações de design diferentes para uma solução de parceria público-privada da pandemia, e não há uma opção única disponível para cada país, mas cada um deles levará em conta alguma versão das características a seguir:

  1. O objetivo principal é assegurar que todas as empresas tenham cobertura pré-combinada, permitindo que ofereçam continuidade de negócios e emprego no caso da ocorrência de outro evento do tipo da covid-19. Para isso, a solução não precisa necessariamente ser obrigatória, em especial quando as práticas de mitigação de risco estão ligadas a prêmios, e o prêmio global é financeiramente viável.
  2. Em segundo lugar, o seguro paramétrico deverá ser levado em conta como uma preferência por ter a grande vantagem de canalizar o dinheiro dos processos nas mãos dos portadores de apólice de forma mais rápida e eficiente do que os produtos de indenização tradicionais.
  3. Em terceiro lugar, muitas pessoas no setor de seguros acreditam que o risco de pandemia é mais bem administrado por meio de uma apólice independente, em vez de ser ampliado nas apólices originais. A apólice pode oferecer um limite fixo predeterminado, que pode cobrir despesas operacionais essenciais como salários, aluguéis durante o prazo de um a três meses após uma ordem do governo de fechar as empresas ou uma ordem de ficar em casa. Este tipo de abordagem pode permitir a disseminação eficiente de fundos para assegurar a continuidade do negócio no caso de outra pandemia do tipo da covid-19.

Muitas discussões

Globalmente, á mais de quarenta discussões em nível de país sobre o estabelecimento de uma solução de parceria público-privada da pandemia em andamento.

Uma importante consideração é a contrapartida entre imparcialidade da cobertura e necessidade de desembolso rápido dos fundos. No contexto da Europa, as discussões estão ocorrendo entre várias partes interessadas europeias, incluindo a Federation of European Risk Management Associations (FERMA), a European Insurance and Occupational Pensions Authority (EIOPA) e a Comissão Europeia sobre uma possível solução da UE aos riscos não seguráveis e sistêmicos.

Embora a maioria das partes interessadas concorde em haver necessidade de soluções para riscos não seguráveis e sistêmicos, existe um sentimento geral de que fazer isso desde o início poderia paralisar o progresso, devido à magnitude dos riscos e preocupações de correlação e agregação. Em vez disso, o foco provavelmente estará na cobertura contra a interrupção do negócio sem danos decorrentes de futuras pandemias.

Um bom exemplo desta abordagem é a solução da CATEX francesa, que, embora atualmente paralisada, pode ser reintegrada ainda este ano. Originalmente, um esquema mais amplo de riscos sistêmicos, que integraria a catástrofe natural existente e os grupos terroristas, havia sido considerado, mas foi decidido que isso era muito complexo.

A melhor abordagem é provavelmente o foco no risco de pandemia no início e então assegurar que qualquer programa estabelecido seja capaz de cobrir outros riscos sistêmicos no futuro, assim que as capacidades e aptidões de modelização tenham sido desenvolvidas.

Seguradora em última instância?

Outro aspecto das discussões na Europa é a possibilidade da UE assumir o papel de seguradora em última instância, além de quaisquer esquemas nacionais que sejam depois instalados.

Os formuladores de políticas e as partes interessadas geralmente são cautelosos sobre qual papel seria esse. Conforme mencionado, alguns Estados-Membros já estão criando esquemas para a pandemia, enquanto outros têm pools existentes para outros riscos catastróficos como inundação ou terrorismo, e muitos não têm pools ou experiência e conhecimento necessários para criá-los.

O papel da UE como uma seguradora em última instância nessas condições, levando em conta a natureza politicamente sensível do pós ou do pré-financiamento no nível da UE, provavelmente surgirá quando as discussões estiverem maduras. Em contrapartida, existe uma necessidade clara de coordenação pela UE, considerando a natureza transfronteiriça do risco e a interconectividade do Mercado Comum Europeu.

O envolvimento da UE na discussão também garante que todos os Estados-Membros estarão envolvidos nas discussões, e aqueles sem experiência em parceria público-privada podem se beneficiar das melhores práticas dos outros.

Múltiplas abordagens

Vale destacar também as diferentes discussões em curso nos EUA, que não estão comprometidas com uma solução. Há cinco abordagens sendo consideradas para uma solução de parceria público-privada para uma pandemia nos EUA.

O Pandemic Risk Insurance Act de 2020 era um projeto de lei na mesa do 116° Congresso. Baseava-se no seguro contraterrorismo nos EUA e estabelecia um sistema de compensação pública e privada compartilhada para perdas por interrupção do negócio devido a pandemias. Exige muito da indústria de seguros, pois propõe a ampliação das apólices originais para oferecer cobertura total contra pandemia.

Pretendendo ser um ponto de partida para a discussão sobre uma solução de seguro para a pandemia, a congressista Carolyn Maloney está buscando ativamente feedback da indústria e da comunidade de portadores de apólices para dar apoio ao seu projeto de lei.

Neste Congresso, ela pretende reintroduzir a legislação e considerar o feedback da indústria em um esforço para levar adiante a solução.

Enquanto isso, a American Property Casualty Insurance Association, que defende o Programa de Proteção da Continuidade do Negócio, é uma solução 100% governamental, mas a mitigação do risco não é ativamente promovida por ela.

Existe, então, uma proposta de Zurique baseada no Federal Crop Insurance Program, e outra da Chubb, o Pandemic Business Interruption Program; esta é uma parceria público-privada de duas partes com um gatilho paramétrico para pequenas empresas e um gatilho de indenização para grandes empresas.

Em resumo, com a solução público-privada certa, os portadores de apólice podem tomar medidas significativas para dobrar a curva de risco em colaboração com seguradoras, corretoras e consultoras de risco. Uma lição do coronavírus é que todos nós subestimamos nossa suscetibilidade a uma pandemia e o efeito dominó que ela teria em nossa economia global.

O sistema certo de seguro contra pandemia pode abordar a lacuna de proteção crítica, tornando-nos mais resilientes ao risco – e inspirar mais confiança econômica no futuro.