Skip to main content

Como os empregadores podem reduzir a ansiedade social da volta ao trabalho

Depois de um ano trabalhando em casa, muitas pessoas estão sofrendo de ansiedade social com a ideia de ter que voltar para o escritório. Pedimos à Dra. Jennifer Wild que orientasse os empregadores sobre como lidar com isso quando os colaboradores começarem a voltar para os escritórios.
View from back above male shoulder on the laptop with diverse employees, coworkers on the screen, video call, online meeting. App for video conference with many people together

Entrevista com Jennifer Wild publicada pelo Brink News em 13 de junho de 2021

Depois de um ano trabalhando em casa, muitas pessoas estão sofrendo de ansiedade social com a ideia de ter que voltar para o escritório. Pedimos à Dra. Jennifer Wild, uma cientista psicológica da Universidade de Oxford com expertise em risco em resiliência, que orientasse os empregadores sobre como lidar com isso quando os colaboradores começarem a voltar para os escritórios.

WILD: É importante que os empregadores reconheçam que algumas pessoas podem se sentir ansiosas sobre o retorno ao escritório porque se preocupam com as interações sociais depois de estar em lockdown por tanto tempo. 

Os empregadores podem normalizar esse sentimento e encorajar encontros informais, como criar espaços em que as pessoas podem se reunir e começar a interagir socialmente como faziam antes.

Também pode ajudar incluir um bate-papo informal nas reuniões, tirando alguns minutos no início para perguntar aos membros da equipe o que há de novo e de bom acontecendo. 

Encorajando um bate-papo antes das reuniões

Quando as pessoas se sentem socialmente ansiosas, têm ansiedade e temores sobre como irão se encontrar com os outros. Se for realmente grave, a ansiedade social pode acabar fazendo com que as pessoas tenham um desempenho fraco na escola e no trabalho, podendo afetar as decisões de vida. 

Quando as pessoas são socialmente ansiosas, sua atenção se volta para os seus sentimentos e temores sobre como acham que se portarão diante dos outros. Elas podem baixar os olhos ou evitar o contato visual, tudo aquilo que torna difícil processar com exatidão como as pessoas estão de fato respondendo a elas. 

Uma das coisas que pode ajudar é usar a conscientização da sensação de autoconsciência como uma dica para olhar para cima e ao redor. Fica mais fácil descobrir que as pessoas estão respondendo de uma maneira gentil e amigável. Isso é algo que uma pessoa pode fazer para ajudar na sua ansiedade social.

BRINKSe a pessoa se sentir muito ansiosa por estar pessoalmente em uma reunião, ela pode então participar pelo Zoom?

WILD: Meu conselho é que, se a pessoa esta se sentindo ansiosa quanto a uma reunião e está sentindo um impulso de participar pelo Zoom, então ela de fato deverá participar pessoalmente porque só assim poderá descobrir que os outros não a estão julgando de forma negativa e que os seus temores não têm fundamento.

Caso você participe pelo Zoom e esteja se sentindo bastante autoconsciente, existe um risco de que o seu foco passe a ser o monitoramento de como você está se saindo e você realmente não processe o que está acontecendo na tela, ou seja, você não obtenha boas informações sobre como as pessoas estão de fato respondendo a você. 

Com bem mais frequência, as pessoas são gentis e amigáveis, mas não percebemos isso quando estamos monitorando a nós mesmos e como estamos nos saindo. 

Tentar participar pessoalmente

BRINKEntão o seu conselho é tentar se envolver o máximo possível, pois isso ajudará no processo de retorno.

WILD: Sim. É importante ficar bem claro o que você acha que vai acontecer ao rever os colegas. Se você for ao trabalho e tiver uma reunião com os colegas, seja bem específico. O que você acha que acontecerá? 

Olhe então à sua volta, faça o possível para que tudo corra bem e se entrose de fato nas conversas. Mais tarde, se pergunte se os seus temores se tornaram realidade. As pessoas rejeitaram você? Comportaram-se de uma maneira que sugeria que estavam julgando você de forma negativa?  Concentre-se em como eles foram amigáveis e inclusivos. Essa ideia de testar os nossos temores é realmente a melhor maneira que temos para superar a ansiedade social.

Teremos flutuações e ansiedade na volta ao trabalho e ao sermos gentis conosco aumenta o nosso otimismo e nos torna mais capazes de resolver os problemas.

BRINKVocê acha que as pessoas perderam algum grau de habilidade social depois de um ano em lockdown?

WILD: Isso é realmente difícil de responder, porque muitos de nós ainda temos um alto grau de interação social, mas ela agora acontece on-line. 

Não creio que as habilidades sociais tenham piorado devido ao lockdown. Só acho que tem sido mais fácil evitar socializar durante o lockdown. Então, se você tem propensão à ansiedade social e como estamos em lockdown, é muito mais fácil evitar interagir com as pessoas porque você pode desligar a sua câmera do Zoom e fazer muitas coisas que exigem interagir com os outros, como fazer compras, usando a internet. 

Temor de voltar a falar em público

BRINKVocê vem aconselhando a universidade e outras organizações sobre o retorno ao trabalho. Que preocupações você tem encontrado?

WILD: Tem havido três preocupações. Uma tem sido a ansiedade em pegar a COVID, que obviamente será resolvida com a vacina. A outra preocupação que tem surgido é um temor de falar em público. Precisar manter conversas com pessoas no mesmo ambiente. E a terceira preocupação é sobre se as pessoas conseguirão ou não manter um equilíbrio entre vida e trabalho quando começarem a usar os meios de transporte novamente.

Quando as pessoas conversavam pelo Zoom, talvez tenham podido espalhar notas ao seu redor para estimular a sua memória sobre os tipos de coisas que desejam transmitir na conversa. Mas quando elas voltam a falar em público, fazer uma apresentação em uma reunião ou dar uma palestra em um anfiteatro, elas nem sempre têm aqueles lembretes presos à volta do seu computador ou na sua mesa, o que pode aumentar a ansiedade sobre a possibilidade de esquecerem o que querem falar.

Foco nos fatos, não nos sentimentos

Tenho demonstrado a empregadores e colaboradores várias das ferramentas que estão contidas no meu livro Be Extraordinary e que podem ajudar. A primeira delas é “Foco nos fatos, não nos sentimentos”. Quando temos uma inquietação ou estamos ansiosos sobre alguma coisa, vamos tentar nos concentrar nos fatos, e não em como estamos nos sentindo ansiosos. 

A próxima ferramenta é chamada de “Então versus Agora”. Ela trata realmente de desfazer o vínculo entre o presente e o passado. As pessoas que mantêm lembranças indesejadas de interações sociais difíceis no passado talvez vivenciadas durante o lockdown, por exemplo, devem se concentrar no que está acontecendo no seu ambiente de trabalho hoje e como isso é diferente da sua lembrança. Esta prática pode ajudar a desvincular o presente do passado.

A próxima ferramenta é chamada de “Incentivo de três minutos”, que nos ajuda a superar o inevitável. Trata-se de pessoas que começam uma tarefa que vêm evitando, dando-lhes permissão para tentar executar a tarefa ou a atividade durante três minutos e então reavaliar se devem ou não continuar ou parar. Três minutos fazendo executando uma tarefa é, em geral, suficiente para começar. E assim que você tiver começado, terá uma sensação de sucesso – liberando dopamina, o fator do bem-estar – que pode motivar que você continue o que está fazendo. 

Planeje algo agradável

A próxima ferramenta é “Planejar para frente”, que envolve planejar o seu próximo dia em etapas de meia hora cada, atribuindo tarefas para cada meia hora e incluindo uma atividade agradável em algum momento durante o dia. A pesquisa mostra que esta ferramenta reduz drasticamente o sofrimento psicológico. 

E ela libera energia mental para enfrentar as tarefas no dia seguinte. Da mesma forma, ao planejar uma atividade agradável e programá-la para o dia seguinte, você estará mais propenso a executá-la, o que pode aumentar o seu bem-estar.

Os empregadores poderiam estimular o pessoal a fazer um ou dois intervalos durante o dia para bater-papo com as pessoas, o que poderia ajudar a refamiliarizar o pessoal com interações informais e ajudar que as pessoas fiquem menos inquietas com as suas habilidades sociais. Se elas souberem que existe esse espaço e forem estimuladas a fazer um intervalo e socializar com os colegas, isso pode tornar as interações sociais menos intimidantes.  

Há mais uma coisa que deve ser dita, que é ser mais compassivos e explorar a autocomplacência. Teremos flutuações e ansiedade na volta ao trabalho e sermos gentis conosco aumenta o nosso otimismo e nos torna mais capazes de resolver os problemas. Cultivar uma mentalidade compassiva sobre a nossa volta ao trabalho nos ajudará a voltar mais felizes e mais confiantes.