Skip to main content

Seguro de Crédito e o Efeito “Lojas Americanas”

Em um país com um ambiente de crédito tão desafiador e peculiar como é o nosso, com taxas de juros historicamente em patamares elevados, inflação constante, contas públicas sob pressão e concentração bancária, é de se pensar que o seguro de crédito é largamente procurado e utilizado por aqui.
Investment stock market Entrepreneur Business team discussing and analysis graph stock market trading,stock chart concept

Em um país com um ambiente de crédito tão desafiador e peculiar como é o nosso, com taxas de juros historicamente em patamares elevados, inflação constante, contas públicas sob pressão e concentração bancária, é de se pensar que o seguro de crédito é largamente procurado e utilizado por aqui, certo? Errado.

Por uma mistura de desconhecimento do produto, poucas opções de seguradoras e corretores especializados, ou até mesmo falta de cultura, o seguro de crédito, que cobre o não pagamento dos recebíveis de transações comerciais a prazo das vendas B2B (na prática é um seguro para o “contas a receber” das empresas), ainda não desenvolveu no Brasil o potencial que a nossa economia sugere, mesmo estando presente por aqui há quase três décadas.

Em países desenvolvidos, a política de concessão de crédito/prazo de boa parte das empresas é pautada e suportada por uma apólice de seguro de crédito. Os bancos usam as seguradoras para mitigar os riscos de concentração e a chamada de capital, para as mais diversas estruturas de desconto de recebíveis. Por aqui, o mercado de seguro de crédito ainda tem muito a crescer. Atualmente a penetração no PIB é de apenas 0,008% com um prêmio de BRL 768 milhões em 2022 (crescimento de quase 25% frente 2021), enquanto no Chile, por exemplo, a penetração é de 0,034%, 4,2 vezes maior.

Com os impactos causados pela pandemia na economia, o mercado de seguro de crédito local e global ficou em estado de alerta máximo em meados de 2020, já projetando o pagamento de pesadas indenizações que ainda não vieram. Com a forte injeção de liquidez dos governos e a maior flexibilidade dos agentes econômicos em renegociar dívidas, essa ”conta” da pandemia foi adiada e pelo que parece está começando a chegar. Em 2021 a sinistralidade do mercado foi no Brasil foi de apenas 16%, enquanto em 2022 saltou para 38% e o viés, ao que tudo indica, é de alta.

Segundo o Serasa Experian, 2022 foi o ano com o menor número de pedidos de recuperação judicial dos últimos 8 anos, mas a expectativa para 2023 é diferente. Com a taxa Selic subindo de 2% para 13,75% em apenas um ano e meio, na tentativa do Banco Central de conter a inflação, o crédito ficou mais caro, pressionando as margens e por consequência aumentando o número de empresas que não conseguem honrar suas dívidas no prazo. Ainda segundo o Serasa, em novembro de 2022, 6,3 milhões de empresas estavam no vermelho, o maior número desde 2016, em linha com o aumento da sinistralidade registrada pela SUSEP em 2022.

Em meio ao cenário macroeconômico desafiador e com claros indícios de uma maior dificuldade das empresas de manter as contas em dia, os mercados financeiro e segurador foram pegos de surpresa pelo ocorrido com as Lojas Americanas. Com uma exposição estimada entre BRL 2 – 3 Bilhões (historicamente os fabricantes de Eletroeletrônicos são grandes compradores do seguro de crédito), as seguradoras já estão em intensas conversas que devem se desdobrar em sinistros de proporções inéditas, com o pedido de recuperação judicial das Lojas Americanas.

Combinando a perspectiva de tempos turbulentos com um caso emblemático de uma recuperação judicial que estava fora do radar, o mercado de seguro de crédito tem os ingredientes necessários para se provar como uma importante ferramenta de mitigação de risco.

Como diria o velho mantra do mundo dos investimentos “Rentabilidade passada não garante rentabilidade futura”, assim como histórico de bom pagador não garante o pagamento futuro.

Autor:

Placeholder Image

Caio Lhano de Azevedo

Gerente de Vendas, Structured & Trade Credit, Parametric, Credit Specialties, Marsh Specialty.