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Transição energética em tempos de crise. Que riscos temos a acautelar?

 

Através do World Energy Trilemma 2019, relatório anual desenvolvido pelo World Energy Council em parceria com a Oliver Wyman, conseguimos acompanhar a evolução e a eficácia dos países, na implementação de políticas energéticas sustentáveis. Este relatório assenta em três pressupostos essenciais: segurança energética, rentabilidade e sustentabilidade ambiental.

São visíveis os avanços para a redução global de CO2. Constatamos que cada região, ao seu ritmo, tem globalmente contribuído para a redução da nossa histórica dependência de combustíveis fósseis. A Europa mantém-se como a principal impulsionadora.

As políticas europeias, conjugadas com instrumentos de financiamento mais flexíveis e modelos sólidos de gestão de risco, permitem assegurar com sucesso o referido trinómio, nomeadamente, em países como a Suíça, a Suécia e a Dinamarca.

Portugal tem apresentado bons índices de crescimento, ocupando a 29ª posição. Este facto deve-se, particularmente, às políticas legislativas favoráveis que têm captado o interesse de vários investidores internacionais, os quais, em parceria com empresas portuguesas, permitem que também estas singrem na corrida das renováveis.

Com os recentes acontecimentos em torno da pandemia COVID-19, colocam-se muitas interrogações sobre a continuidade deste sucesso: estará este percurso comprometido?

Conforme é noticiado pela Agência Internacional de Energia (AIE) sabemos que, globalmente, há um indesejável abrandamento da indústria, o qual, (in)diretamente, contribui para a redução das emissões de CO2.

De todo o modo, e conscientes de que o caminho para a verdadeira transição energética passa, sim, pela aposta e prossecução de políticas verdes, abordamos os impactos do COVID-19 na ótica do investimento, modelos operacionais e repercussões contratuais.

Destaco os sectores do solar e da energia eólica:

·         A energia solar, sendo uma das mais promissoras, em Portugal, poderá ter constrangimentos, na execução dos seus projetos. Ao nível regulatório poderão surgir alterações: em termos de licenciamento e de remuneração, com novas tarifas – provocando atrasos na execução e diminuição da receita expectável. Ainda, os principais fornecedores de painéis solares, baterias e demais equipamentos, vêm da China, pelo que poderemos assistir a roturas nas cadeias de fornecimento e consequentes atrasos na construção das centrais solares.

·         No sector eólico a preocupação mantém-se: o objetivo de instalação na rede elétrica de 9,3 GW, até ao final de 2030, poderá também ser ameaçado por falhas nas cadeias de fornecimento. Neste caso, o COVID-19 poderá impactar na renovação das centrais eólicas, na substituição total ou parcial de instalações, sistemas e equipamentos, repowering, e no desenvolvimento de novos projetos greenfield onshore e offshore.

A interdependência de sistemas operativos e tecnológicos é substancial nestes sectores de atividade, pelo que a mera interrupção de um elo condutor, por causas físicas ou pelos denominados Acts of God, poderá pôr em causa toda a linha de produção e a continuidade do negócio, levando a situações de desinvestimento.

Falamos de riscos que, tanto na ótica do investimento como na ótica operacional e contratual, poderão ter efeitos nefastos, caso não sejam antecipadamente acautelados, mitigados e possivelmente transferidos.

Como podemos verificar, a pedra basilar para a concretização de uma transição energética sustentável, e de acordo com o World Energy Trilemma 2019, consiste, essencialmente, no desenho, implementação e controlo de um modelo eficaz de gestão de risco – capaz de responder, globalmente, pelo interesse de cada stakeholder, público e/ou privado e por fim, do nosso maior interesse comum.

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title: Construction and Energy & Power Specialist, Marsh Portugal

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