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Vem aí uma pandemia de crédito?

 

Após a OMS declarar o Covid-19 como pandemia, diversos países decretaram medidas drásticas, por forma a controlar a propagação do vírus. Estas medidas tiveram um impacto significativo nas previsões dos números de infetados, mas trouxeram também muitas preocupações para as empresas.

A OCDE já reviu a previsão de crescimento mundial, para 2020, de 0.5% para crescimento zero, mas, neste momento, este novo cenário poderá já ser uma estimativa otimista. Segundo o economista Ricardo Reis, da London School of Economics, devido às restrições que assistimos, a economia real deixou de produzir bens (por falta e/ou incapacidade de produção), o que poderá levar a uma recessão económica.

Ainda que estejam previstas medidas, ao nível do BCE e FMI, nomeadamente políticas centrais de injeção de liquidez, será isso suficiente para uma situação de shut down económico? As políticas locais, anunciadas pelo nosso governo, serão suficientes para tranquilizar os empresários portugueses?

Por outro lado, quem está particularmente atento ao evoluir desta situação são os analistas de risco, nomeadamente dos seguradores de crédito, que incorporam nas suas avaliações a já iniciada contração económica. Assim, no que toca à visão destes seguradores sobre o risco de falência das empresas, começam já a ser adotadas políticas de restrição aos limites de crédito concedidos e assistimos a uma segmentação na atribuição de plafonds por indústria. De acordo com a informação que dispomos, os sectores mais penalizados neste momento são: transportes, automóvel, metalúrgico, têxtil, tecnologias da informação, retalho, turismo e construção.

Esta redução dos limites tem um impacto direto no risco da carteira de clientes das empresas (que assim podem ter de correr mais risco, assumindo crédito por sua conta), além de poder afetar soluções de crédito de curto prazo, como por exemplo o factoring sem recurso.

As empresas estão sedentas de soluções e não tanto de mais um garrote. Não é certo que estejam a contar com endividamento em linhas de curto prazo, oferecidas pelo Estado, para solucionar os seus negócios. Também não é certo que o tempo de retoma tenha como horizonte o fim do segundo trimestre. O que é certo é que as empresas precisam de aliviar um conjunto importante de custos para não fecharem, retomarem rápido, cumprirem com as suas obrigações para com clientes e fornecedores e continuarem a assegurar empregos.

Apesar das medidas apresentadas na passada sexta-feira, ainda ficam aspetos bloqueantes por rever no sector empresarial, nomeadamente permitindo maior flexibilidade de reação às empresas – flexibilização dos encargos sociais, apoios ao nível dos custos fixos (exemplos: salários, luz, água, gás, etc.); simplificação de acesso a fundos de capital de risco do Estado ou de apoio à agricultura; forte campanha de comunicação do país para apoio ao turismo e ao consumo em Portugal; criação de um regime de exceção na banca, para flexibilizar o consumo de capital; maior apoio a empresas em dificuldade (exemplo: maior flexibilidade nas Sociedades de Garantia Mútua com apoio do Estado); redução generalizada da carga fiscal, tanto nos impostos diretos como indiretos; etc.

Se o tempo muitas vezes é solução para muitos problemas, neste caso não joga a favor das empresas. É imperativo encontrar soluções que acautelem problemas futuros. Monitorizar o mercado, os clientes e até mesmo os fornecedores são medidas fundamentais. Cash is king, pelo que urge recentrar as prioridades na gestão de tesouraria, monetizando a carteira de clientes, além de confortar fornecedores, instituições financeiras, acionistas e colaboradores.

Nos próximos tempos, além do esforço individual de cada empresa, será necessário um apoio e coordenação muito forte do Estado e, também, de uma capacidade reforçada das nossas instituições financeiras (banca e seguros) para apoiar as empresas nesta altura.

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