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Artigo

Geadas fora de época acendem alerta sobre gestão de riscos climáticos no agronegócio

Entenda os impactos das geadas fora de época na agricultura brasileira e conheça estratégias de prevenção, risco e recuperação para reduzir perdas.

Anualmente, o agronegócio brasileiro perde cerca de R$ 11 bilhões em função de eventos climáticos extremos. Eles têm se tornado cada vez mais intensos e frequentes, ocorrendo em momentos até então considerados de baixo risco. Como exemplo, a recente onda de frio que avançou no Sul do Brasil no final de junho de 2025 derrubou termômetros a até -2°C no Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, causando geadas fora de época pela região.

A geada danifica tecidos vegetais ao criar cristais de gelo dentro e entre células, rompendo vasos condutores – o que pode reduzir a qualidade da planta e até matá-la. Se ocorrer em estágios sensíveis de cultivo, as perdas podem chegar a 100%. Segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária, o fenômeno reduziu em até 25% a produtividade do trigo gaúcho e praticamente dizimou hortaliças folhosas.

Já no Centro-Oeste, somente 26,99% da área cultivada no Mato Grosso havia sido colhida até 27 de junho, ante 62,40% no mesmo período de 2024 e 43,92% da média dos últimos cinco anos. Os dados são do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (IMEA). Impactos sobre as safras de café e cana-de-açúcar também são esperados – o que deve gerar queda na oferta e elevação dos preços.

Esse cenário coloca a previsibilidade de custos e receitas sob pressão, destacando a urgência de reconhecer o risco climático como elemento central nas decisões do setor. Os produtores não podem mais se basear apenas em métodos tradicionais de cultivo: é fundamental integrar ações de mitigação que combinem manejo preventivo e seguros agrícolas com as coberturas adequadas.

Como se preparar para uma geada?

MANEJO PREVENTIVO

Planejamento estratégico da semeadura: definir datas de plantio com base em previsões climáticas de alta resolução e históricos de geadas permite posicionar o estabelecimento das plantas fora das janelas de maior risco.

Seleção de cultivares resistentes e de ciclo precoce: adaptadas a baixas temperaturas, eles florescem e completam fases críticas antes do auge das frentes frias, reduzindo o período de exposição dos estágios sensíveis do desenvolvimento vegetal.

Escolha de áreas elevadas para plantio: o frio tende a se acumular em depressões e baixadas, formando bolsões gelados que agravam o risco de geada. Implantar lavouras em terrenos levemente elevados favorece a drenagem do ar frio, melhora a circulação atmosférica e diminui a frequência de mantos de gelo sobre as folhas.

Nutrição equilibrada e reforço da estrutura vegetal: uma adubação rica em potássio, enxofre e silício eleva o ponto de congelamento da seiva e confere maior rigidez aos vasos condutores, tornando os tecidos menos suscetíveis à ruptura por formação de cristais de gelo.

MITIGAÇÃO FINANCEIRA E GESTÃO DO RISCO

Seguro Agrícola: é a forma mais direta de transferir o impacto financeiro de eventos climáticos para a seguradora. Além das coberturas tradicionais, vale considerar apólices paramétricas, que pagam automaticamente quando indicadores como temperatura ou chuva ultrapassam limites pré-definidos, agilizando o fluxo de caixa e garantindo capital para replantio ou outras medidas emergenciais.

Diversificação de culturas: plantar diferentes espécies ou variedades dilui o risco de perdas totais. Assim, se uma cultura for severamente afetada pela geada, outras menos sensíveis ao frio podem compensar a receita. 

Mercados futuros: operar contratos futuros de commodities ou opções na bolsa permite travar preços de venda antecipadamente, protegendo a margem em caso de seca, geada ou excesso de chuva. 

Planejamento financeiro: um planejamento orçamentário sólido, com provisões para cobrir períodos de baixa produtividade e linhas de crédito sazonal, garante que o produtor não seja surpreendido por oscilações bruscas de receita após eventos extremos.

A geada chegou: como proteger a plantação?

Coberturas físicas: estender lonas e tecidos específicos sobre as plantas retêm calor do solo, elevando a temperatura do ar próxima às folhas e reduzindo o risco de congelamento em hortaliças e mudas.

Aquecimento por queimadores: use fogueiras ou serragem queimada para elevar a temperatura local, sempre seguindo normas de segurança para evitar espalhamento do fogo.

Irrigação por aspersão: acione aspersores para liberar uma névoa fina de água sobre as plantas. Conforme essa água congela, o processo libera calor latente. Essa técnica requer aspersores adequados para formar uma película de gelo contínua.

Barreiras contra o vento: quebra-ventos naturais (fileiras de árvores ou arbustos) ou artificiais (muretas e telas tensionadas) ao redor da área cultivada reduzem a velocidade do vento, minimizam a convecção de ar frio e ajudam a manter um microclima mais estável, evitando geadas.

Após a geada: avalie possibilidades de recuperação

Avaliação de danos (5–30 dias): em plantações de milho, aguarde de 5 a 7 dias para definir se é possível recuperação ou replantio. Em pomares (cítricos, frutíferas), faça uma análise cuidadosa a partir do 30º dia para definir podas ou replantio.

Poda e estímulo de recuperação: remova de forma seletiva ramos e folhas com tecido comprometido. Em seguida, aplique bioestimulantes para acelerar a cicatrização e incentivar o crescimento de novos brotos saudáveis.

Monitoramento fitossanitário contínuo: plantas estressadas atraem pragas e doenças, exigindo manejo cuidadoso após uma geada. Realize inspeções semanais e adote controle integrado com defensivos de baixo impacto para impedir surtos e proteger a recuperação da lavoura.

Por fim, considere construir uma matriz de riscos que permita identificar rapidamente as ameaças mais críticas e priorizar ações, instalando uma cultura de risco ágil. Com esse mapeamento, os planos de gerenciamento e resposta a incidentes serão mais eficazes, fortalecendo a resiliência financeira e operacional.

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