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Artigo

Recuperações judiciais reforçam a importância do seguro de crédito

Empresas que vendem a prazo precisam proteger seu fluxo de caixa e lucratividade. O seguro de crédito é uma ferramenta essencial para garantir o recebimento de valores.

Em 2024, o Brasil registrou 2.273 pedidos de recuperação judicial: 61,8% a mais que em 2023 e o maior volume da série histórica iniciada em 2014, segundo dados do Serasa Experian. A última atualização de mercado da Marsh Credit Specialties mostra que esse movimento não deve arrefecer ao longo de 2025, refletindo um ambiente de crédito cada vez mais pressionado.

A expectativa é que as taxas de insolvência sigam acima das médias históricas, impulsionadas pelo custo do financiamento em patamares elevados e pela inflação brasileira acima da meta de 4,5%. Divergências nas decisões de política monetária entre os principais bancos centrais do mundo e diversos riscos geopolíticos e climáticos em curso também vêm desestabilizando o mercado.

Nesse cenário, as empresas que vendem a prazo precisam adotar estratégias para proteger seu fluxo de caixa e preservar a lucratividade. O seguro de crédito surge como ferramenta essencial para garantir o recebimento de valores, ainda que o comprador deixe de pagar ou ingresse em processo de recuperação judicial.

Seguradoras assumem, em média, 90% do risco

De acordo com o 2º Relatório do Observatório da Insolvência (ABJ/NEPI-PUC-SP), metade dos valores devidos em recuperação judicial só costuma ser paga após cerca de 9 anos. Em dívidas de maior porte, esse prazo pode se estender para até 15 anos.

Com o seguro de crédito, entretanto, a empresa transfere parte desse risco à seguradora. Na maioria dos casos, o pagamento da indenização acontece em até 180 dias após a comunicação do sinistro. Em casos de Recuperação Judicial, esse prazo é de apenas 30 dias após o deferimento do pedido protocolado pela empresa.

Na apólice, são definidos os clientes protegidos e qual o limite de crédito para cada um, sendo que a empresa segurada pode optar por abranger toda a carteira ou apenas um segmento específico.

Sempre que um comprador entra em cena, um novo pedido de limite é feito. A seguradora, então, avalia o risco e aprova, ajusta ou recusa o limite solicitado. A partir do momento em que o valor é definido, qualquer inadimplência gera direito à indenização: a seguradora cobre o percentual contratado sobre o valor efetivamente perdido – em média, 90%.

Já o custo de seguro considera fatores como o perfil do setor, o grau de concentração da carteira e o histórico de perdas. Setores e carteiras com maior probabilidade de calotes ou concentradas em poucos grandes clientes normalmente pagam prêmios mais altos, enquanto carteiras diversificadas obtêm taxas mais baixas. Os valores pagos são dedutíveis do Imposto de Renda, reduzindo a carga tributária efetiva.

Dessa forma, a empresa garante proteção contínua contra riscos de crédito sem precisar negociar uma apólice diferente a cada venda a prazo. Ainda, a análise e monitoramento contínuo da carteira de recebíveis aprimora o gerenciamento e a prevenção de riscos.

Vantagens para além da indenização

O seguro de crédito oferece diversos benefícios que reforçam a saúde financeira da empresa. Ele permite ampliar a base de clientes e elevar o volume de negócios sem aumentar sua exposição ao risco. Esse raciocínio se aplica tanto a vendas em território brasileiro quanto às exportações.

Nas exportações, há também a cobertura de Risco Político, dependendo do país em que a transação comercial ocorreu. Ou seja, o exportador brasileiro poderá receber a indenização do importador, decorrente de decisões governamentais, em alguns casos, como, por exemplo, Risco de Transferência e Inconversibilidade de Moeda, entre outros cenários possíveis. Outra vantagem é a possibilidade de descontar recebíveis junto a instituições financeiras em condições comerciais mais vantajosas, uma vez que esses títulos contam com a garantia do seguro.

Em termos contábeis, reduz diretamente a Provisão para Devedores Duvidosos (PDD) – o montante que a empresa reserva para cobrir perdas potenciais com clientes inadimplentes.

Por exemplo: se o percentual de cobertura negociado é de 90%, em vez de precisar provisionar R$ 1 milhão em PDD, a empresa reserva apenas R$ 100 mil. Os outros R$ 900 mil estarão garantidos pela apólice, liberando lucro imediato.

Modalidade precisa avançar no Brasil

Em países desenvolvidos, a política de concessão de crédito de boa parte das empresas é pautada e suportada pelo seguro de crédito. No Brasil, o mercado tem muito a crescer, com uma penetração no PIB de apenas 0,008% em 2022. A título de comparação, no Chile o percentual foi de 0,034%, 4,2 vezes maior.

Essa abordagem reativa reflete uma cultura corporativa que prioriza resultados de curto prazo e subestima a importância de estratégias contínuas de mitigação de risco – mesmo quando os recebíveis representam grande parte do ativo circulante.

Além disso, outra cultura que ainda prevalece no mundo corporativo é a avaliação do risco de inadimplência a partir de uma perspectiva histórica, como se um bom histórico de pagamentos dos clientes fosse considerado suficiente para desconsiderar a necessidade de proteção do seguro. Um exemplo notável é a Americanas S.A., que muitas empresas consideravam "grande demais para falir" e optaram por não incluir em seu seguro de crédito.

As perdas superaram em muito os prêmios que teriam pagado caso tivessem optado pela cobertura securitária. Este caso serve como um alerta de que até mesmo grandes empresas estão sujeitas a problemas financeiros, e a verdadeira segurança está em ter a proteção de uma apólice. O cenário atual reforça a necessidade de mudar essa mentalidade, integrando o seguro de crédito à governança financeira em vez de tratá-lo como um instrumento de contingência. Ao resguardar o fluxo de caixa, as empresas reforçam sua credibilidade junto a bancos e investidores, abrem portas para financiamentos mais vantajosos e garantem maior solidez e agilidade para enfrentar cenários econômicos adversos.

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Carolina Jardim

Carolina Jardim

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Bruno Conforto

Bruno Conforto

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