
Bruno Dotti
Climate & Sustainability and Enterprise Risk Services Advisory Leader, Europe
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Italy
Desde a gestão do risco climático até à ação efetiva, as empresas estão a encarar a adaptação climática como um elemento vital para a sua resiliência.
O Estudo “Climate Adaptation” da Marsh foi realizado num contexto de aumento dos eventos climáticos extremos, alterações regulatórias e custos crescentes associados aos riscos climáticos. Num momento em que as decisões sobre o equilíbrio entre custos imediatos e planeamento de resiliência a longo prazo estão sob forte escrutínio.
As empresas estão realmente a responder ao desafio da adaptação? De forma encorajadora, 78% das organizações inquiridas estão a avaliar os seus riscos climáticos futuros. Contudo, mais de 50% não utilizam análises de custo-benefício para fundamentar os investimentos em adaptação. Esta lacuna demonstra que abordagens quantitativas não têm de ser um entrave para esforços incrementais de adaptação. Ao mesmo tempo, as organizações têm a oportunidade de quantificar melhor o valor das medidas de resiliência e integrá-las na tomada de decisões estratégicas.
O nosso estudo global oferece uma visão sobre como a adaptação é encarada pelas organizações do setor privado, especialmente sob a perspetiva dos gestores de risco. Ao analisar a adaptação deste ponto de vista, os resultados fornecem uma compreensão detalhada dos desafios, prioridades e oportunidades que definem o caminho para um futuro climático mais resiliente.
As organizações sentem os efeitos de padrões climáticos severos em todo o mundo, desde incêndios florestais na América do Norte a inundações na Europa e tempestades tropicais na Ásia. Estes eventos são não só disruptivos, como também têm consequências financeiras significativas.
O estudo revelou que as maiores proporções de inquiridos afetados por eventos climáticos extremos nos últimos três anos estão na Ásia (73%), Índia, Médio Oriente e África (68%) e Canadá (67%). Esta variabilidade regional reforça a importância de avaliações de risco localizadas e estratégias de resiliência adaptadas.
Segundo o estudo, 74% dos inquiridos sofreram perdas ou interrupções nos seus ativos físicos devido a eventos climáticos extremos. Para além dos riscos físicos, estes eventos afetam cada vez mais as operações e a segurança das pessoas, com 67% a reportar perturbações ou perdas relacionadas com operações e colaboradores.
Importa destacar que os perigos climáticos apresentam riscos que ultrapassam os ativos. Os impactos a nível sistémico também são significativos, embora em menor escala — 35% das organizações reportaram impactos nos seus clientes, 32% em infraestruturas críticas e 21% em recursos e serviços ecossistémicos.
Dada a natureza ampla e interligada das ameaças climáticas, não surpreende que o custo financeiro das catástrofes naturais continue a aumentar. Até ao final de 2024, as perdas seguradas globais por catástrofes — que subestimam a verdadeira dimensão dos prejuízos — ultrapassaram os 100 mil milhões de dólares pela quinta vez consecutiva. Em 2025, as perdas seguradas por catástrofes naturais já estão a caminho de superar este valor.
Estas tendências evidenciam a necessidade urgente de as organizações adotarem uma abordagem holística para compreenderem o impacto das perdas causadas por eventos climáticos extremos, de modo a prepararem-se, responderem e alocarem recursos de forma mais eficaz.
Existe uma lacuna significativa na profundidade das análises de risco climático. Embora 75% dos inquiridos afirmem que a sua organização está a avaliar os impactos climáticos futuros, menos de metade (38%) realiza avaliações para além do nível qualitativo. Quase um quarto (22%) não avalia os impactos climáticos futuros. As principais barreiras apontadas incluem a falta de dados abrangentes, a dependência excessiva de modelos de catástrofe focados em dados atuais ou históricos, e a confiança em planos de continuidade que podem não refletir totalmente os riscos climáticos em evolução.
Além disso, o âmbito das avaliações climáticas é algo limitado. A maioria concentra-se nos ativos físicos (85%) e nas operações e pessoas (66%), que são componentes importantes. Contudo, muitas organizações subestimam ou ignoram os riscos a nível sistémico — como dependências em infraestruturas críticas (45%) e vulnerabilidades nos fornecedores (43%) — que podem amplificar significativamente o impacto dos eventos climáticos.
O risco climático físico agrava tanto ameaças a curto-prazo, como a longo-prazo. O perigo mais referido é de inundação, seguido do stress térmico e hídrico, embora estas preocupações variem entre regiões.
Ao avaliar tanto os riscos climáticos a curto-prazo como a longo-prazo, as organizações podem antecipar melhor os potenciais impactos dos eventos climáticos. Por exemplo, modelos multirrisco que incorporam os dois tipos de riscos permitem priorizar investimentos em resiliência e adaptação, desenvolver planos de contingência abrangentes e compreender melhor a natureza interligada destes riscos.
O estudo revela que os inquiridos focam-se principalmente em medidas operacionais (45%) e financeiras (30%) para reforçar a resiliência face às mudanças futuras. Mais de metade já implementou ou planeia adotar estratégias de gestão da continuidade do negócio (BCM) e intervenções de engenharia, reconhecendo estas áreas como críticas para manter a estabilidade e mitigar perturbações. Além disso, 25% estão a implementar medidas estratégicas, como alterações em produtos ou serviços.
No que toca à governação, a responsabilidade pela adaptação climática está distribuída de forma desigual. Enquanto 54% indicam o responsável pela sustentabilidade como principal responsável pelas iniciativas climáticas, apenas 28% atribuem essa responsabilidade ao chief risk officer ou diretor de risco. Esta distribuição sugere que a adaptação climática ainda é vista sobretudo como uma questão de sustentabilidade, e não de gestão de risco. Integrar o risco climático nos frameworks de gestão de risco empresarial pode melhorar a coerência estratégica e a responsabilização, garantindo que a adaptação climática esteja presente em todos os níveis de decisão.
Perspetivando o futuro, 28% dos inquiridos esperam aumentar os investimentos em adaptação climática nos próximos um a três anos, enquanto 20% antecipa um aumento nos próximos três a cinco anos. Este horizonte temporal reflete uma crescente urgência em abordar os riscos climáticos, alinhando-se com as tendências do setor e com o Global Risks Report 2025, que identifica os eventos climáticos extremos como ameaças imediatas, de curto e longo prazo. Contudo, 22% não esperam qualquer aumento nos seus investimentos em adaptação, evidenciando diferentes níveis de prioridade e alocação de recursos, possivelmente influenciados por perceções de risco, pressões regulatórias ou limitações financeiras.
Embora muitas organizações reconheçam a importância da adaptação climática, outras prioridades empresariais competem frequentemente por recursos limitados. A maioria (60%) acredita que a sua organização dispõe de financiamento adequado para esforços de adaptação climática. Curiosamente, a realização de análises custo-benefício não parece ser um obstáculo significativo; mais de 50% dos que têm financiamento dedicado não realizam estas análises regularmente. O que pode indicar uma abordagem pragmática, onde os recursos são alocados com base numa perceção intuitiva do risco, em vez de avaliações económicas detalhadas.
No entanto, 40% sentem que a sua organização não tem financiamento suficiente para uma adaptação climática eficaz. Os desafios apontados incluem a prioridade dada a outras áreas, falta de conhecimento sobre cenários climáticos futuros e interesses concorrentes por recursos limitados. Isto revela uma lacuna na compreensão do alcance e dos benefícios da adaptação climática — por exemplo, cada dólar investido em resiliência e preparação pode gerar uma poupança de 13 dólares a longo prazo — bem como o desafio de equilibrar investimentos climáticos com exigências operacionais imediatas.
As três áreas que mais necessitam de apoio adicional são engenharia de ativos, gestão da continuidade do negócio (BCM) e desenvolvimento de sistemas de alerta precoce. A engenharia de ativos e a gestão da continuidade di negócio (BCM) são também as áreas mais ativamente implementadas ou planeadas, refletindo uma clara ênfase estratégica na resiliência operacional e mitigação de riscos.
Existe uma possível desconexão: embora 75% das organizações avaliem os impactos climáticos futuros, principalmente do ponto de vista do risco, muitas ainda não reconhecem a adaptação climática como uma oportunidade de investimento para reforçar a gestão global de risco empresarial. 40% indicam que o financiamento atual para adaptação climática não é adequado. Devido ao consenso generalizado sobre a importância crítica da mitigação climática, estes esforços têm historicamente recebido maior atenção, tornando, de alguma forma, mais difícil garantir a atenção e o investimento em adaptação. Felizmente, existem várias opções, soluções de financiamento de risco e estratégias de planeamento de resiliência que podem ajudar os gestores de risco a colmatar esta lacuna.
O estudo mostra que a motivação para a adaptação climática é maioritariamente impulsionada por pressões internas e de stakeholders, e não por considerações relacionadas com seguros. Cerca de 75% dos inquiridos reportam pouca ou nenhuma preocupação com a indisponibilidade ou inacessibilidade de seguros atualmente, sugerindo que o acesso a seguros não é o principal motor para os seus esforços de adaptação. De facto, em média, apenas 5% indicaram o acesso a seguros como principal motivação para investir em resiliência climática, e apenas 10% não percebem a procura significativa dos seus seguradores por adaptação climática.
Embora o acesso a seguros não seja o principal motivador da adaptação climática, a necessidade de gerir o risco é a razão mais referida, selecionada por 53% dos inquiridos. Esta motivação reflete o reconhecimento crescente de que as alterações climáticas representam riscos sistémicos para as empresas, exigindo adaptação estratégica para proteger ativos, manter receitas e reforçar a resiliência.
Para além da gestão de risco, as organizações são motivadas pela necessidade de proteger as suas operações, reputação e conformidade, com a perceção de vantagem competitiva (17%) e pressões regulatórias (13%) também apontadas como fatores que impulsionam o investimento em adaptação climática. Alinhar soluções de seguro com estas motivações mais amplas pode ajudar a melhorar os mecanismos de transferência de risco, apoiando as organizações na concretização dos seus objetivos de resiliência.
Climate & Sustainability and Enterprise Risk Services Advisory Leader, Europe
Italy
Director, Head of Climate Resilience, Marsh UK
United Kingdom
Head of Climate & Sustainability Risk, Marsh
United Kingdom
Climate & Sustainability Advisory Leader, Asia and Pacific, and Climate Centre of Excellence Co-Leader
Singapore
Climate & Sustainability Advisory Leader, Latin America and Caribbean
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