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COVID-19 e o Sistema Financeiro – Desta vez salvam-se apenas os mais fortes?

 

A banca portuguesa enfrentou e superou enormes desafios nos últimos anos. Procurou capitalizar-se, reduzir custos, balcões e colaboradores, investir em tecnologia, vender crédito malparado e sobretudo focar-se em crédito de bom risco.

Hoje, é esperado que a banca esteja mais robusta e preparada para responder, “quiçá”, aos enormes desafios que esta pandemia coloca, mas terá os seus limites e a crise que enfrentamos poderá ser uma crise sem precedentes, não sendo descabido dizer que poderá afetar o nosso sistema bancário.

A banca procurou, desde a primeira hora, e ainda antes do governo aprovar a moratória de crédito, sinalizar a sua disponibilidade para apoiar famílias e empresas. Por outro lado, o BCE aliviou as regras sobre as almofadas de capital impostas aos bancos da zona euro, para garantir que estes estarão em posição de apoiar famílias e empresas.

A banca procurou focar-se em crédito de bom risco, mas confronta-se agora com um desafio de curto prazo – dar uma resposta atempada às necessidades de crédito das empresas. Uma resposta célere será crítica para as ajudarem a sobreviver nestes tempos de “guerra”.

As empresas estão perante um possível cenário de catástrofe económica, esperando que o sistema financeiro faça a sua parte. Serão os reguladores e o sistema financeiro capazes de assumir esse papel tão difícil de “deixar morrer” as organizações mais débeis e focar-se apenas na “cura” das mais fortes?

As empresas enfrentam múltiplos riscos e um dos mais perigosos é o tempo. Uma resposta eficaz será a banca permitir a possibilidade de serem processadas digitalmente, operações de crédito que tenham a garantia do Estado, de forma a serem formalizadas no mais curto espaço de tempo. Nos dias de hoje, qualquer operação de crédito tem que ter o crivo de passar por várias áreas para cumprir com os normativos internos instituídos, daí ser imperativo a banca acelerar o seu processo tecnológico para simplificar a vida às empresas.

Outro desafio da banca é a sua liquidez. Bem sabemos que a banca está capitalizada e o BCE já demonstrou disponibilidade em ativar a “bazuca” para injetar liquidez no sistema bancário. Mas não podemos esquecer que uma boa parte do funding tradicional da nossa banca está assente nos depósitos dos seus clientes, que poderão estar comprometidos em virtude de muitas famílias e empresas virem a necessitar de resgatar as suas poupanças.

Dada a dimensão do problema, algumas confederações já manifestaram que os apoios até aqui disponibilizados serão insuficientes e que é baixo o montante da linha de crédito de 3,2 mil milhões de euros. Por outro lado, decorre ainda a discussão sobre qual o instrumento da “Europa a 27” para melhor responder a esta pandemia. Enquanto se discute se existirá uma intervenção musculada através da emissão dos Coronabounds, ou outro instrumento, será bom agirmos rapidamente para podermos resgatar e pôr as nossas empresas e trabalhadores a salvo desta pandemia, sabendo que, no fim da linha, a perda de capacidade financeira das famílias terá um impacto direto no consumo e nos níveis de confiança.

Olhando para os últimos 12 anos, o Estado injetou mais de 25,5 mil milhões de euros nos bancos portugueses. Das autoridades, pedem-se respostas concretas, pragmáticas e eficazes. Infelizmente, se não existirem medidas disruptivas, solidárias e rápidas, milhares de postos de trabalho serão destruídos, milhares de empresas poderão fechar e o nosso sistema bancário poderá entrar em colapso.

E é perante este cenário que também a banca enfrenta o risco do tempo. Dificilmente as empresas que utilizarem as linhas disponíveis, face à recessão que se avizinha, estarão com capacidade para reembolsar o capital aos bancos nos próximos quatro anos. Para salvar a economia urge encontrar a “vacina”. Uma injeção direta que, independentemente de entrar no sistema financeiro, chegue de forma urgente às empresas. A elegibilidade da linha deve ter, naturalmente, regras apertadas e o reembolso de capital deve ser dilatado para prazos significativamente mais largos, sob o aval do Estado.

Já agora, um bom exemplo de medidas menos habituais, que seria importante para empresas e para os próprios bancos, é complementar a atenção dada ao financiamento, com um forte apoio aos Seguros de Crédito. Já se assistem a reduções significativas dos limites de crédito concedidos pelos seguradores e, sem um apoio do Estado, será muito difícil que esta tendência não se mantenha. É um assunto que está a ser analisado, mas, mais uma vez, o tempo é inimigo de todos. Sem seguro de crédito, é muito mais difícil vender. Sem vendas…

Estamos perante uma crise sem precedentes que merece outras respostas. Será preciso uma medida mutualista e solidária para com as nossas empresas. Depois de ter salvado bancos, não valerá a pena termos uma plano C para salvar a economia?

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